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"Um legado para minha família", diz Gabi Ribeiro, Intercambista da Soul Bilíngue na África do Sul

Atualizado: 19 de set. de 2023

Good Hope Studies abriu as portas para a jovem paulista de 24 anos realizar um sonho e ser exemplo de resiliência a todos que tentaram fazê-la desistir



Gabriella Ribeiro tem 24 anos e mora em São Paulo

Enquanto faz intercâmbio na África do Sul com a Good Hope Studies, Gabriella Ribeiro, 24 anos, jovem embaixadora Soul Bilíngue, moradora de São Paulo, encontra tempo para olhar para si, dar asas a seu espírito livre e já inicia um processo pessoal para deixar um “rio de lágrimas” ao despedir-se da Cidade do Cabo, no fim de setembro. É que, para ela, pisar naquelas terras marcadas pela luta pela liberdade de um povo, é o pontapé inicial de uma promessa feita a si própria: conhecer o mundo.


“Acredito que tudo que levamos para o caixão são histórias, e a gente só precisa de oportunidade”.


Gabi Ribeiro foi aluna da ONG em 2020, na turma que começou no presencial e terminou no online, uma consequência da pandemia. Ela mora com a mãe, o avô e o tio, família que, sem ter oportunidades, juntou-se para proporcionar esta experiência para ela.


Fazer esse intercâmbio é uma realização. A Soul fez total diferença na minha vida porque esse tipo de oportunidade eu jamais teria. Me fez abrir os olhos para o que eu quero pra minha vida, daqui para frente.

Além de conhecer o mundo, Gabi já sonhou em fazer ciências aeronáuticas, medicina e chegou a cursar enfermagem, curso que teve de largar por uma daquelas peças que a vida prega: sua primeira paciente foi sua mãe, que precisou dela em um momento chave.


Dona Glória é uma das grandes responsáveis por esta viagem. Foi ela que “descobriu” o programa da Soul Bilíngue, por meio de uma vizinha; “se virou nos 30” para a filha ir para a aula em Mogi das Cruzes (SP - sede da Soul Bilíngue) quando o dinheiro para o ônibus faltou e incentivou Gabriella a continuar o programa mesmo ouvindo de várias pessoas que a Soul Bilíngue era muito concorrida e, até, que poderia ser uma mentira.


Confira abaixo o papo que a Gabi Ribeiro bateu com a Soul Bilíngue, entre uma atividade e outra na terra de Nelson Mandela.


Soul Bilíngue: Gabi, conte um pouco sobre você. Qual sua idade, onde e com quem reside? O que faz, atualmente?


Gabriella: Eu sou a Gabriella Ribeiro, tenho 24 anos e moro em São Paulo com a minha mãe, meu avô e meu tio. Eu trabalho numa instituição de pagamentos, na área de riscos e prevenção de fraude.


No aeroporto de São Paulo, com o avô, Vicente, e a mãe, Glória, antes de embarcar para a Cidade do Cabo

Já tive diversos sonhos. Inclusive, já quis ser médica, fazer ciências aeronáuticas, ser aeromoça e percebi que a maioria dos meus sonhos profissionais era voltada a algo que não me mantivesse presa. E lá no meu trabalho, a gente tem muita autonomia para fazer tudo: tomar decisão, ir atrás das coisas.


Eu me sinto bem livre, eu sou muito livre. Entrei na Soul contando um pouco da história da minha mãe, da minha vida. Estudei quatro anos para tentar medicina. Era um dos meus sonhos poder ajudar as pessoas através das minhas mãos e minhas orientações. Sempre gostei muito da área da Saúde. Entrei para a enfermagem e quase perdi minha mãe, em 2018, no dia do meu aniversário, por uma questão de saúde.


Devo muito do que estou vivendo à minha mãe. Às vezes, eu não tinha dinheiro da passagem de ônibus para ir para a Soul e ela dava um jeito, pedia para os vizinhos e me ajudava.

Foi quando precisei adquirir uma responsabilidade que não tinha - tanto financeira, quanto emocional. A minha mãe, durante muito tempo precisou da minha ajuda integral. Eu precisei largar meus estudos. Precisei cuidar dela, virei adulta e era necessário mudar todos os meus planos profissionais porque eu não poderia fazer medicina, por exemplo, e me dedicar a ela, ao mesmo tempo.


Hoje ela está bem! Eu devo a ela ter conhecido a Soul. Minha mãe, mesmo doente, me ajudou. Ela conhecia uma vizinha que, porventura, era sogra de uma mentora, e foi atrás, saber tudo para mim. Aquilo ficou na minha cabeça. Inclusive, ela foi uma das únicas pessoas que me incentivou até o final, porque eu ouvi muito, muito, muito, sobre as pessoas falando para mim que era um negócio difícil, que poderia ser mentira ou que era muito concorrido. Mas a minha mãe foi até o final comigo. Às vezes, eu não tinha dinheiro da passagem de ônibus para ir até Mogi e ela dava um jeito, pedia para os vizinhos e me ajudava.


Hoje, eu posso dizer que ela é uma das pessoas mais felizes por eu estar fazendo esse intercâmbio, porque sempre foi o sonho dela e sempre foi meu também. E mesmo depois de todas dificuldades que a gente passou e tudo mais, ela tá na torcida comigo.


Soul Bilíngue: Fale um pouco de sua infância. Como foi, onde cresceu e que sonhos tinha quando pequena?


Gabriella: Eu sempre fui uma criança tranquila. Não tive problemas com a minha família; ela sempre foi muito unida. Sempre morei com os meus avós e com a minha mãe, que sempre me deram muito apoio. Meu pai mora em Santa Catarina, faz um tempo que a gente não se vê, mas, ainda assim, nosso relacionamento é bom.


Fazer amizades com pessoas do mundo todo é uma característica do intercâmbio

Sobre meus sonhos, desde pequena eu quis ser um monte de coisa. Sempre fui muito sonhadora e nunca me considerei indecisa e sim uma pessoa livre. As pessoas ao meu redor sempre sabiam o que queriam fazer e eu notei que nunca quis me prender às coisas. Eu quero poder ter a liberdade de ser quem eu quiser dentro da empresa onde estiver, dentro do meu círculo de amigos.


Sou muito tímida e isso sempre me atrapalhou bastante. Eu sofri muito bullying quando era criança, porque eu era mais gordinha. Já passei por seis cirurgias e no primeiro dia de vida, eu precisei operar, porque senão, iria morrer. De qualquer forma, sempre soube levantar a cabeça e tenho certeza de que ainda tenho muitos sonhos.


Eu quero poder trazer um sonho de uma criança para a vida real. Acho que as pessoas colocam muitos problemas da vida adulta na própria vida, o que torna uma vida adulta chata. Eu nunca me preocupei muito com isso, sabe? Acho que a essência de uma criança é não ter o problema como prioridade e sim a felicidade daquele momento. Isso é o que eu mais prezo hoje: a felicidade que eu posso ter naquele momento e não no futuro.


Soul Bilíngue: E sua relação com o inglês, como é? Por quê entrou para a Soul Bilíngue?


Gabriella: Minha relação com o inglês foi muito difícil. Sempre foi uma realidade muito distante para mim. Já tentei estudar em algumas escolas de inglês e tudo mais, só que pelo valor alto e pelas coisas que eu tinha de fazer, na época, precisei sair.


Nunca consegui reservar fundos para poder estudar inglês. Acho que o maior tempo que fiquei estudando foi na Soul e está sendo um desafio muito grande para mim. Eu não vim para a África do Sul tão preparada como eu gostaria, mesmo tendo passado tanto tempo desde que ganhei a bolsa. Tive muitas adversidades, financeiras e emocionais, que não me permitiram dar continuidade aos estudos.


Ninguém da minha família estudou fora. Inclusive, dos mais antigos, ninguém se formou na faculdade. É um legado que deixo aos meus familiares, por estar vivendo uma experiência como essa.

Estou muito feliz porque tinha uma barreira enorme de falar o idioma. Hoje, no meu quarto dia aqui, já consigo pedir uma comida sozinha, ir ao mercado, pedir um Uber. Não consigo entender ou falar muitas coisas, mas entendi que isso não me impede de, um dia, conhecer o mundo.


Eu fiz o processo seletivo da Soul e entrei contando a história da minha mãe e de como fui resiliente para enfrentar as adversidades que aconteceram nesse período. Eu não achei que ia passar na seletiva e conseguir entrar no curso. Em nenhum momento, pensei que ia ganhar a bolsa, de fato, mas também não desisti. Claro que fiquei com um pé atrás e só me inscrevi porque foi indicação de uma pessoa de confiança. Muitas pessoas falaram para eu desistir, dizendo que era muito concorrido, para eu tentar no ano seguinte, dar continuidade depois ou nem tentar. Mas não quis ligar para isso.


Hoje, para mim, estar fazendo esse intercâmbio é uma realização. A Soul fez total diferença na minha vida porque esse tipo de oportunidade eu jamais teria. Não tenho condição financeira, hoje, para bancar um intercâmbio. Estar aqui, vivendo essa experiência, me fez abrir os olhos para o que eu quero pra minha vida, daqui para frente.


Soul Bilíngue: Como está a expectativa para esse tempo de viagem. O que achou do seu destino, até aqui?


Gabriella: Eu só sentia medo. Ainda está saindo um choque para mim. Quando eu cheguei, travei, pensei que não ia conseguir continuar. Estou no meu quarto dia aqui e tem sido incrível! Eu tenho encontrado pessoas muito pacientes, pessoas muito legais, fiz bastante amizades. Na Good Hope Studies, também, as pessoas são muito receptivas. Então, as expectativas são, agora, as mais altas.




Dá uma insegurança, estar tão longe de casa, mas sou uma pessoa muito aventureira que simplesmente me jogo no que eu posso e depois eu vejo o que faço, sabe? Eu não estou me prendendo mais à recepção de algumas pessoas e estou aproveitando toda a viagem. Estive em lugares maravilhosos. Estou conseguindo me virar um pouco sozinha. Isso já é uma vitória para mim, é uma barreira que eu nunca achei que conseguiria quebrar e me faz querer continuar.


Soul Bilíngue: Alguém de sua família já viajou para fora? Alguém estudou fora?


Gabriella: Minha mãe já foi para a Argentina, a convite de amigos dela, porque também não tinha muitas condições. Mas ninguém da minha família estudou fora. Inclusive, ninguém da minha família, dos mais antigos, se formou na faculdade. É até um legado que deixo aos meus familiares, por estar vivendo uma experiência como essa. Todos estão muito orgulhosos, porque não é uma realidade para minha família. Tem sido incrível.


Soul Bilíngue: Qual o tamanho desse sonho e qual a importância de realizá-lo?


Gabriella: Eu estou respondendo isso para vocês e me emocionando porque nem nos meus maiores sonhos, imaginei que estaria vivendo isso, entendem.


Faz três anos que ganhei essa bolsa e não caiu minha ficha ainda. Desde quando comecei a viajar para lugares, acampar e tudo mais, conhecer lugares da minha cidade, isso despertou em mim a vontade de conhecer o mundo. Só que, infelizmente, para a nossa realidade, muitas vezes isso não é possível. Eu disse a mim mesma que não queria morrer sem poder conhecer pelo menos alguns lugares, porque acredito que tudo que a gente leva para o caixão é história e a gente só precisa de oportunidade. Tem muitas pessoas esperando por uma oportunidade!


Faz três anos que ganhei essa bolsa e não caiu minha ficha ainda. Nem nos meus maiores sonhos, imaginei que estaria vivendo isso.

Estou muito, muito, muito grata por ter sido escolhida para ter essa oportunidade. Tudo que estou vivendo aqui, não consigo explicar em palavras, acho que será um choque muito grande quando voltar para o Brasil. Porque é um sonho! Sempre tive o sonho de conhecer o mundo e ainda tenho esperança de conseguir realizar isso.


Não é a condição financeira que vai construir as minhas memórias. Já tive que desmarcar a viagem com vocês porque não tinha dinheiro. Estava próximo da data que tinham me passado, e eu não tinha nada. Para essa viagem, mesmo, as condições financeiras foram uma questão. A gente precisou pedir um empréstimo para eu poder viajar. Quando digo que minha família está comigo, é de verdade, porque devo muito à Soul e a eles, por isso. Eles não tiveram oportunidades, mas fazem de tudo para que eu as tenha.


Estar aqui, agora, me faz acreditar que eu posso qualquer coisa. Mesmo sem dinheiro, sem ter pensado em fazer intercâmbio, um dia, as coisas são possíveis. Só precisamos de uma porta aberta e eu encontrei com vocês.


Eu choro porque estou feliz. Pode ter certeza que vou derramar um rio e lágrimas quando for embora desse lugar.

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